JC e-mail 4522, de 20 de Junho de 2012.

Rio+20: Expo Brasil Sustentável apresenta projetos bem-sucedidos de inovação e tecnologia para cidade e campo

Casas sustentáveis que permitiriam desfavelização, ozônio despoluente, biopesticidas e usinas caseiras de biogás são algumas das iniciativas expostas na mostra.

No lugar de seis meses, uma obra que levantaria uma casa de 50 metros quadrados em duas semanas, onde paredes, telhados e toda a sustentação fossem feitos de materiais leves e ecológicos. Um equipamento que permite a eliminação de qualquer odor tendo como matéria prima apenas o oxigênio. Uma plantação de cana que elimina suas pragas com a pulverização de fungos. O que todas essas soluções têm em comum? Além de serem sustentáveis e ecológicas, estão disponíveis para matar a curiosidade do público no Armazém 3 do Píer Mauá, dentro da Expo Brasil Sustentável, mostra da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).

O sonho da casa própria, almejado pela grande maioria dos brasileiros, foi o que motivou e aguçou o senso de oportunidade da curitibana Embafort, empresa de embalagem industrial. Para Humberto Cabral, diretor da companhia, concreto é coisa do passado. A experiência no desenvolvimento e produção de embalagens industriais de madeira gerou expertise para a equipe de Cabral desenvolver peças de alto isolamento acústico e resistência, feitas de madeira de reflorestamento prensada e isopor, que se encaixam como paredes, tetos e pisos, prescindindo de colunas e até de vigas, mesmo no caso de edifícios.

Segundo Cabral, até duas pessoas podem montar este tipo de casa, comum em países como Chile (especialmente depois da destruição provocada pelos recentes terremotos no país) e nos Estados Unidos. O diretor acredita que as casas ecológicas industrializadas em série no Sistema de Construção a Seco (SCS) podem ser uma ferramenta para desfavelizar áreas, permitindo moradias dignas às pessoas que não querem abandonar o local onde vivem.

O público-alvo são as classes C, D e E e o custo chega a ser 20% mais econômico que o das opções de alvenaria. “O proprietário pode comprar o kit e montar, a partir de um projeto arquitetônico. Até 50% dos resíduos urbanos vêm da construção civil. Nós temos menos de 3,5% de resíduos, que ainda podem ser reutilizados”, conta, lembrando que a empresa foi certificada com as normas ISO 9.001, ISO 14.001 e OHSAS 18.001e ganhou o Prêmio Finep em 2006.

Ozônio e fungos – Por outro lado, a BrasilOzônio, sediada na Universidade de São Paulo, tirou do recurso mais democrático da Terra, o ar, seu sustento. Tendo como matéria prima o oxigênio, a empresa gera ozônio em alta concentração, utilizado em mais de 60 aplicações, como tratamento de água e fluidos, esterilização de materiais cirúrgicos e alimentos ou eliminação de odores. “O ozônio é o mais potente germicida do planeta e o segundo mais potente oxidante”, destaca Samy Menasce, diretor da empresa.

“Nós não inventamos o ozônio nem somos os primeiros a fazer isso. Nosso diferencial foi desenvolver sistemas onde é possível captar o ar ambiente [de qualquer qualidade], filtrar, secar, separar o oxigênio e a partir dele gerar o ozônio em alta concentração”, detalha Menasce, ressaltando a portabilidade e o barateamento dos equipamentos, além da pouca energia utilizada. Ele destaca a utilização do equipamento em barcos e em hotéis, para eliminação de cheiro de cigarro e germes dos quartos, por exemplo.

Eliminar organismos prejudiciais à saúde também é o negócio da SmartBio, sediada em Adamantina (SP). No caso, da saúde de vegetais, mais especificamente a manutenção de plantações de cana-de-açúcar, milho e soja. Com foco na agricultura de precisão, a empresa atua, entre outras áreas, no desenvolvimento de produtos biológicos para o controle de doenças, pragas e plantas daninhas, aumentando a produtividade e o acúmulo de biomassa e açúcares.

Cristiano Fagundes, gestor de inovação da empresa, detalha a produção de defensivos agrícolas e as estratégias de manejo integrado no uso da biodiversidade. Ele dá exemplos de fungos como metarhizium, beauveria (ambos para controle biológico de insetos) e o trichoderma (no combate a patógenos de solo). Com doses altamente concentradas de 1X1012, os sachês com esporos são diluídos em água e pulverizados nas plantações. Em média, são aplicadas cinco doses por hectare, mas a quantidade pode variar dependendo da infestação.

“Vamos a campo, identificamos os fungos que atacam certas pestes, como a cigarrinha das raízes, que ataca a cana, e o reproduzimos em laboratório em larga escala”, detalha, sublinhando que os fungos não são prejudiciais aos humanos nem aos vegetais. O metarhizium e a beauveria, por exemplo, são produzidos em laboratório a partir de arroz (mil quilos produzem 300 gramas de fungo). O grão, depois de lavado, pode ser reutilizado para novas culturas desses microorganismos ou como ração animal.

De acordo com Fagundes, a solução é até 50 % mais barata que os pesticidas químicos (que podem custar 120 reais por hectare). O biopesticida pode demorar um pouco mais a eliminar as pragas, porém, alerta o gestor, além de evitar matar outros insetos presentes na plantação, a solução biológica mantém o equilíbrio natural por meio da reprodução dos fungos aplicados, evitando novas infestações.

Plástico de etanol e usina – Com um dos maiores estandes da Expo Brasil Sustentável, a Braskem apresenta sua intenção de contribuir para um mundo com química sustentável por meio de projetos como o Polietileno (PE) Verde, bioplástico feito de etanol de cana de açúcar. Daniel Farah, gestor de inovação da empresa, sublinha que a grande vantagem desse plástico, idêntico ao de origem petroquímica, é ter uma matéria-prima renovável.

“Muita gente pergunta se é biodegradável, mas não é. Porém, vem do etanol, uma fonte renovável, e pode ser reciclado”, especifica Farah, que presenciou reações curiosas dos visitantes, como a de pessoas que tentam sentir cheiro de álcool ou açúcar no material. De acordo com o gestor, cada tonelada de PE Verde produzido reduz até 4,6 toneladas de emissões de CO2. “200 mil toneladas por ano de PE Verde significam menos 920 mil toneladas de CO2 no mesmo período, o que equivalem às emissões de 920 mil carros por ano”, detalha, lembrando que há um projeto de polipropileno (PP) verde no segundo semestre de 2013.

O estande da Itaipu Binacional é outro dos que mais atraem visitantes na mostra, exibindo iniciativas como o Parque Tecnológico Itaipu, o Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação e o Projeto Ñandeva, que visa fortalecer o desenvolvimento do artesanato da região que une Brasil, Paraguai e Argentina. Entre os projetos que chamam atenção está o de Geração Distribuída com Saneamento Ambiental, cuja exposição reproduz as etapas de funcionamento de uma usina de biogás instalada em uma granja de suínos. Nela, a energia elétrica é produzida por um biodigestor que processa esterco.

A granja, localizada em São Miguel do Iguaçu (oeste do Paraná), tem pontos de monitoramento instalados, que vão transmitindo, em tempo real, a produção de energia em kW a um infográfico eletrônico que pode ser visto na exposição. De acordo com o engenheiro ambiental Felipe Pinheiro Silva, os dejetos produzidos pelos 5,2 mil suínos podem fornecer quase 900 kW por dia.

A energia do biogás atende a todas as necessidades da granja de 250 hectares e ainda sobra eletricidade para vender, o que rende uma soma de cerca de 2,5 mil reais extras para o dono. Os resíduos do processo são tratados (evitando a contaminação de lençóis freáticos, por exemplo) e ainda são reaproveitados para a produção de biofertilizantes.

(Clarissa Vasconcellos – Jornal da Ciência)